No quadro PERSONALIDADE de hoje, domingo, 01/08, apresentamos João Pedro Gonçalves, amazonense de Parintins, ex-vereador de Manaus, ex-deputado estadual e senador da República, no período 2007 a 2011. Ele esteve em nossa redação para falar sobre o Brasil de ontem e o de agora. No momento se dedica a escrever um livro, onde conta histórias do cenário político do Amazonas e do país, principalmente, nas décadas de 1980 e 1990.
Um dos principais personagens da esquerda do estado do Amazonas, o petista não se contém em falar de sua obra que, segundo ele, busca mostrar um pouco do período da redemocratização do país, as lutas políticas e sociais nas últimas décadas do século 20:
“Estou escrevendo um livro, contando sobre a juventude da década de 1980, a sociedade e o Brasil da época, que pedia a ruptura contra a ditadura. Essa geração deu sua contribuição. Eu estou resgatando fatos, a história do movimento estudantil e sindical, entre outras coisas, quando em1983 os metalúrgicos romperam o “peleguismo”, uma chapa vitoriosa que tinha como presidente o Ricardo Moraes. Ele vence por conta que uma grande mobilização, principalmente por parte da igreja católica”.
A praça e o povo
João Pedro relembra também um episódio envolvendo estudantes, polícia e políticos da época, entre eles os senadores Evandro Carreira e Fábio Lucena. Ele conta que:
“Era 1981 e a confusão foi parar dentro da igreja de São Sebastião; governo (José) Lindoso, os estudantes foram fazer um ato público e a polícia chegou reprimindo, foi preso o senador Evandro Carreira, que acompanhou os manifestantes até o DOPS, no centro, próximo ao porto. Então, chega o Fábio (Lucena) e fica em frente a Faculdade de Educação, na Rua Tapajós, e segurou a onda. Uma semana depois voltamos à praça e o Fábio Lucena, discursando, disse a célebre frase: ‘estamos diante de três templos, o templo das artes, o Teatro Amazonas; o templo de Deus, a igreja São Sebastião e o templo do povo, que era a praça’. Nesse dia tinha muita polícia, mas não vieram mais pra cima da gente”.
João nos confidencia que também consta em sua obra a história de alguns bairros de Manaus, como o Zumbi dos Palmares, e destaca a participação da Irmã Helena, nessa questão, como uma das principais personagens da “reforma urbana” que a capital do Amazonas experimentou à época. Também fala da Zona Franca, do progresso alcançado e das distorções que o modelo trouxe para o estado e a região; do desinteresse do sistema capitalista com o homem, em detrimento ao lucro. Segundo João “quando o patrão chama para ZFM ele está preocupado com a linha de montagem, produzindo a todo vapor, com o social não, nem com a moradia, então a população faz a própria reforma”, destaca.
Em relação ao momento atual, João Pedro fala como um garoto colegial, lutando nas trincheiras dos movimentos estudantis, quando diz “precisamos ter força para lutar contra esse governo curto, fascista, que ataca o país. A população precisa ir pra rua, denunciar esse governo, essa ultradireita incompetente, uma economia excludente, um presidente que zomba, critica da dor das pessoas, que destrói as instituições populares, como a Fundação Palmares. O que acontece com os povos indígenas é condenável; com a o bioma Amazônia, favor da economia madeireira ilegal. Poderia ser a legal, e porquê não? Mas há um estímulo a ilegalidade em tudo o que ele faz”.
O ex-senador relembra que veio de Parintins para o Colégio Agrícola e saiu direto para o Incra, porém foi demitido porque apareceu na capa de um jornal da cidade, em 1979, protestando contra o regime militar. Foi exonerado por um superintendente, que ele teve dificuldade de lembrar o nome do cidadão e quanto o fez me disse “foi o Carioca” que me demitiu. Porém, o petista voltou ao órgão como superintendente, no período 2003-2006.
Eleições 2022
Sobre o PT e as eleições de 2022, ele assegurou que o Partido vai seguir a orientação nacional, não poupou elogios ao Lula e destaques a sua atuação enquanto presidente do Brasil. O ex-senador, dizendo se sentir motivo e esperançoso para a eleição que irá definir o futuro do país a partir de 2023, sentencia:
“A eleição vai se dá dentro do contexto de retomada das forças democráticas, no sentido de construir um brasil democrático, plural, um país sem ódio, que possa reviver sua pluralidade ética. O Brasil está isolado do mundo, não entra na União Europeia; não compõe a agenda ambiental do Biden; temos um presidente que faz piada com a china, o nosso maior comprador. Precisamos fazer um governo de recuperação. Não vai ser o governo do PT, mas das forças progressistas, do povo brasileiro. Agora estou voltando para ser membro na Executiva Estadual do partido, vou ter voz e voto nas plenárias que vão definir a tática eleitoral de 2022”.
Sobre o livro ele guarda segredo em relação ao lançamento, quanto ao seu retorno ao campo de batalha, João Pedro, esteve presente, com bandeira em punho, nos atos de protesto do #forabolsonaro, na cidade de Manaus.
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