Por Thomaz Antonio Barbosa
Exatamente hoje (19/07), é comemorado o dia das crianças na Venezuela. A data é tradicionalmente festejada no terceiro domingo de julho. Em Manaus, por incrível que pareça quem sofre mais são os pais. É neles que reside a saudade da infância em seu país, a referência deixada para trás.
As crianças pelo que se percebe estão mais resignadas, pois boa parte delas já nasceu em épocas de crise. Segundo a enfermeira Ângela Serrano “meus filhos estão tranquilos, pois há uma expectativa de vida melhor aqui. Lá tudo era limitado, eles me dizem que tem saudades, mas preferem ficar”, afirma.
Ângela que mora no centro de Manaus e sobrevive como artesã lembra que “o primeiro ano foi muito forte. No meu país meu primo fazia festa na igreja e na comunidade, aqui nada. Não houve uma entrega de regalo, um bolinho, nem teatro de rua, baile, motivação alguma”, lamenta ela.
Em virtude do “dia de los niños” ser em data diferente da que se comemora no Brasil ela acrescenta que hoje seus filhos brincam com a situação dizendo “queremos ganhar presentes duas vezes”, finaliza a enfermeira.
Apesar da grande massa de venezuelanos residentes em Manaus, a data foi pálida, sobretudo porque na questão migratória tem gente demais envolvida, mas ninguém sabe a cor do gato. São entidades civis e religiosas disputando um espaço de protagonismo em detrimento à falência humana que se dava na pátria de origem e que se prolonga em terra estranha.
Oficialmente não chegou à redação do CONVERSACOMTHOMAZ.COM, tão pouco foi visto em matérias ou em páginas de redes sociais, algo dando conta de algum evento comemorativo alusivo ao “dia de los niños” aqui por nossas bandas. Aconteceram comemorações isoladas, a maioria incentivada por brasileiros anônimos, porém solidários.
Entre os ambulantes que trabalham na região do Teatro Amazonas, uma venezuelana que não quis se identificar contou que “não havia dia das crianças em meu país, se não há dinheiro não há o que comemorar”. Já um jovem casal, de Delta Amacuro, que também trabalha na Praça de São Sebastião, festeja: “nosso filho nasceu no Brasil”.
O que diz a ONU
Segundo estimativa da Organização das Nações Unidas – ONU metade dos refugiados do mundo são crianças; que uma em cada 80 vive como deslocada forçada; entre estas as desacompanhadas são as mais vulneráveis; a maioria dos refugiados infantis são do Sudão do Sul.
A ONU acredita que hoje mais de 4 milhões dessas crianças estejam fora da escola. Isso é mais da metade de um contingente superior a 7,4 milhões das que estão refugiadas mundo a fora.
Na América Latina o drama é maior é dos venezuelanos em virtude da crise econômica, social e humanitária que vive o país. Segundo dados não oficiais até o final do ano de 2019 ao menos 400 crianças haviam chegado ao Brasil, sozinhas.
O contingente total das que deixaram o regime de Nicolás Maduro e entraram na fronteira brasileira no ano passado é superior a 10 mil delas.