

Por Thomaz Antonio Barbosa
De repente eu me vejo em missão na Operação Acolhida, Pitrig-AM, balcão OIM – Onu Migrações, com protocolos de residência. O trabalho começou pela mudança dos móveis, a acomodação da sala, a lavagem do tablado e, enfim, o atendimento aos migrantes venezuelanos.
No primeiro dia havia uma fila enorme na frente do posto, o desespero saía da fronteira e interiorizava no continente, chegando à Manaus. Nossos atendidos estavam ansiosos, inseguros, assustados, famintos por amparo, abrigo, dignidade e cidadania.
O Pitrig-AM era um mundo a parte, quem passava na Torquato Tapajós via a fila, sabia dos problemas recorrentes da Venezuela, mas não da dor de cada um daqueles, aquela individualizada, a que transforma o homem em lobo dele mesmo.
A Venezuela que a gente atendia não era um país rico que havia falido, mas um de origem falida, frágil, que buscava riqueza, um povo que migraria ao primeiro estímulo, bastava uma porta aberta, um álibi.
No Brasil eles encontraram a travessia de mundos; na crise interna, o motivo; na OIM, o abraço de boas vindas.
O migrante tem um traço comum, aquele que lhe faz caminhar olhando para trás para poder projetar o sonho de chegar adiante, a algum lugar que lhe acolha, no afã de migrar.
Tudo é um encantamento que passa pelas horas amargas, o sol, a sede, o cansaço. É mágico, senão oportuno, sair de uma “Población” e morar no centro histórico de Manaus, de Florianópolis, Curitiba, Porto Alegre ou São Paulo.
E o Pitrig-AM estava ali, a sala 07, da OIM, todas as horas, de portas abertas, aliviando a dor do fardo, alimentando a alma e o sonho de quem não tinha quase nada, além do desejo inexplicável de sonhar.
O expediente começava às sete horas…..
(Continua na parte II)
Excelente! Muito obrigada.
Eu que agradeço