
Por Thomaz Antonio Barbosa
Para quem ainda estava no palanque eleitoral, na frente dos quartéis gritando “S.O.S Forças Armadas” ou encurralados nas casernas dos generais, bem como, nas alcovas do presidente, arquitetando um terceiro turno das eleições de 2022, o futebol chegou, jogando um balde de água fria na fúria insana dos sectários que insistem em mudar o rota do tempo.
Sim, a Copa do Mundo esfria o debate eleitoral, joga Waldemar da Costa Neto para o inclemente ostracismo dos lacaios da maldade, e Jair Bolsonaro para os escombros da política brasileira.
A história faz justiça com a história, o que serviu para promover a ditadura militar no século passado, serve agora para silenciar a tentativa de uma possível ruptura democrática, novamente protagonizada pelos sabres enferrujados das Forças Armadas nacionais.
O futebol apascenta o povo, extravasa sentimentos, emoções coletivas, independentemente das vontades ideológicas, pseudo-religiosas, anárquicas, nazifacistas com extremismos de gênero, classe social ou raça.
Gritar gol é o maior ato de unidade do povo brasileiro, aquele que fazemos juntos com o amigo e o estranho, com o abraço espontâneo e o sorriso largo, sem nenhuma culpa, medo ou rancor. Nessa hora o país se nivela por meio de sua maior virtude: jogar futebol.
Não seria Jair Bolsonaro e seus bajuladores que nos roubariam esse momento mágico, do herói que nasce do povo que, como uma divindade, domina a bola e brinda a plateia com um, dois golaços. Não seria ele, o ditador, com seus abutres a nos tirar esse delírio coletivo, essa emoção sublime que nos une e identifica.
Richarlison é o homem do povo que se transforma no herói da massa, mas que não está impune à perseguição do tirano, pois a ganância de Flávio Bolsonaro pode lhe tirar criminosamente uma casa em Angra dos Reis, todavia, jamais o seu nome da eternidade.
Não será a usura de um pária, de um reles esfomeado por dinheiro alheio, que irá macular a glória de quem desfila talento, vestido de verde amarelo – de cabeça erguida – pelos campos de futebol do planeta, representando um país de injustiçados.
Portanto, não será um verme com sua corja de seguidores sanguinários que irá destruir o desejo da pátria, a eleição foi justa, limpa, vencemos “jaires e waldemares”. Para que se tenha ciência, a democracia prevalece, honrando a bravura dos sensatos, um novo tempo surge, o país unido se levanta contra a tirania, o futebol se encarrega de varrer Bolsonaro!
Imagem: Nelson Almeida / AFP
Ótima reflexão. Daquelas que combinam criticidade política com experiência e percepção prática da cultura, ou arte futebolística, num tecido racional que não aceita pontos sem o nó da verdade da política e da arte do futebol. Um texto não extensivo, com a leveza dos poucos parágrafos, mas com a força do martelo nietzscheano, que destrói as pedras no caminho das formas democráticas, que impedem de contemplar o novo, que surge tanto na arte de bater a bola com mestria, quanto na arte de perder uma eleição e de exercer a oposição democraticamente.
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