*Por Lúcio Carril
A vitória da Nova Frente Popular (NFP) ontem na França é um bom sinal da reação política à extrema direita no mundo. O país da revolução burguesa do século XVIII deu uma demonstração de unidade para enfrentar o perigo da xenofobia e da destruição dos valores de igualdade, liberdade e fraternidade.
Não é a primeira vez que o povo francês reage a esse risco. Em 2002, Jean-Marie Le Pen passou para o segundo turno nas eleições presidenciais, o que motivou uma ida em massa dos eleitores para barrar a ameaça, elegendo Jacques Chirac.
No Brasil, em 2022, a composição de uma frente democrático-popular elegeu Lula presidente, derrotando a extrema direita representada por Jair Bolsonaro. Diga-se de passagem que foi a primeira vez desde a redemocratização que um presidente não se reelegeu. A unidade de amplos setores da sociedade e de segmentos liberais favoreceu a derrota do projeto autoritário e nefasto.
A unidade de forças políticas para enfrentar um mal maior tem muitos exemplos na história. A segunda guerra mundial confirmou isso, quando a aliança entre países de linhas ideológicas antagônicas derrotou o nazismo.
Mas essa sonhada unidade não é uma engenharia fácil. Ela exige maturidade política e um compromisso enraizado nos valores universais da democracia e da cultura civilizatória.
A ameaça da extrema direita e do retrocesso histórico não será afastada apenas com uma derrota eleitoral. O Brasil é um exemplo dessa realidade. Mesmo tendo perdido a eleição para presidente, setores ligados às velhas bandeiras reacionárias, muitas das quais com forte perfil medieval, estão atuantes e fazendo a disputa do seu projeto.
Estamos entrando no processo eleitoral de escolha de prefeitos e vereadores. A polarização extrema direita/forças democrático-popular está posta em todas as capitais e grandes cidades. Não se trata de uma mera eleição local, mas de um balizamento para 2026.
Em Manaus, quatro candidatos à prefeitura se engalfinharão na disputa pelos votos legados de Bolsonaro, um candidato vagueia sem identidade ideológica, mas de claro perfil liberal de direita e outro, Marcelo Ramos, correrá solto no campo do eleitorado lulista, que no segundo turno da eleição presidencial de 2022 obteve 37% do eleitorado da capital.
Marcelo já tem unidade na federação composta por PT/PCdoB/PV e conta com apoio declarado do PDT e Solidariedade. Mas quer ir além e garantir o apoio do PSOL e da Rede.
É legítima a postura do PSOL em lançar um candidato ou candidata, mas é preciso que seus dirigentes e militantes se mirem no exemplo da França e do Brasil que derrotaram a extrema direita.
O apoio do PSOL à candidatura de Marcelo Ramos reforçará a unidade democrático-popular, mostrando maturidade e lucidez na análise política. A extrema direita continua implacável e precisa ser combatida pelo cordão histórico que a derrotou.
A federação Rede/PSOL reúne uma militância do campo de esquerda imprescindível para derrotar as candidaturas de direita que disputam a prefeitura de Manaus. Sua aglutinação em torno de Marcelo Ramos não se trata de adesão, mas de um passo necessário para garantir êxito eleitoral aqui, em São Paulo e noutras cidades que o campo progressista disputa junto.
Como dizia o velho Lênin, às vezes é preciso dar dois passos atrás para dar um a frente, e esse passou a frente precisa ser dado ainda no primeiro turno, para evitar que dois candidatos de direita disputem o segundo turno.
* O autor é sociólogo