Conversa com Thomaz

domingo, 12 de maio de 2024

O verão amazônico

Por Lúcio Carril

É tempo de vazante dos rios amazônicos. Os lagos ficam abarrotados de peixes.

É tempo de fartura.

Os meses de seca (o caboclo amazônida pronuncia séca) têm seu auge de setembro a novembro. Com o rio descendo, os peixes ficam presos nos lagos, se tornando alvos fáceis para pescas de anzol e de tarrafa.

A pesca grande pode ser feita, também, no rio ou nos paranás, com os arrastões de redes.

É tempo de muita oferta de pescado: pacu, aracu, curimatã, surubim, carauaçu, sardinha, bodó, e muitos outros, citando só o estado do Amazonas.

A bacia amazônica concentra a maior diversidade de peixe de água doce do mundo, com mais de 2.500 espécies.

As feiras de Manaus se tornam uma só alegria nesse período. É proteína barata, saborosa, que alimenta e faz parte da nossa dieta e da nossa cultura.

É tempo de muita quentura.

É tempo de urubu voar só com um lado da asa e se abanar com o outro lado, como diz o caboclo no seu fino sarcasmo.

É comum no nosso verão a sensação térmica de 41°.

É tempo de muito cheiro de chifre derretido, diz o manauara encrenqueiro.

Mas o tempo quente e a vazante dos rios também nos trazem as belas praias.

No interior do Amazonas, é banho de rio e de sol todos os dias, para refrescar o calor e fazer o bronzeado.

Em Manaus, igarapés ficam cheios e as praias da lua, do tupé, da ponta negra, do açutuba e a dourada são as mais frequentadas. Ainda tem os flutuantes, pontos de encontro de todas as idades.

O verão amazônico é intenso, quente, com mormaço e muita cerveja. É uma alegria difícil de conter.

O tempo é parte da vida do nosso povo.

Esta estação muito quente determina quase tudo na vida. Da forma de se vestir às atividades laborais.

É tempo de pouca roupa e de vendas de água nos semáforos.

É tempo de contas altas de energia e de água. Aumentam os usos de ventiladores e condicionadores de ar, indispensáveis para um mínimo de conforto.

Nos pontos de reunião: botecos, esquinas, cafés, banca do peixe, a conversa é sempre em torno do clima. A quentura domina inclusive a pauta das fofoqueiras, este patrimônio cultural precursor do whatsApp.

O certo é que o verão amazônico faz parte da vida e da cultura dos povos das cidades e da floresta. Aqui está quente ou muito quente, mesmo no período de chuvas, que vai de dezembro a maio.

Não só o rio comanda a vida, como dizia Leandro Tocantins, mas também nossas duas fortes e radicais estações do clima.

*O autor é sociólogo

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