Conversa com Thomaz

Adelson Santos, 75 anos de genialidade no reino da clorofila

(imagem: Reprodução/Facebook)

Poderia ser uma sexta-feira qualquer, de uma cidade qualquer, se não fosse Manaus e exatamente o dia do aniversário de Adelson Santos, um dos maiores gênios desta terra. Versado em música, aliás, doutor e maestro, além de professor da universidade federal do Amazonas, titular da matéria.

Fora do âmbito acadêmico, o músico, compositor e cantor Adelson é um divisor de águas na história da – se não fosse a presença dele – pálida música regional. Nos idos de 1976 a música “Argumento” fazia o Brasil cantar os versos que enchiam o Amazonas de orgulho e arrancavam, de um ostracismo letárgico, todos os vieses da cultura do estado.

Poder ouvir no rádio “não mate a mata, a virgem verde bem que merece consideração” fazia a nossa alma cabocla arrancar a mordaça e gritar “depois de qualquer noite aflita”. Adelson era o pássaro que fazia nossos “sonhos de voar” voarem por aí. No legado do acadêmico e popular, do santo e profano Adelson Santos tem discos, livros, óperas e orquestras.

Ao Conversa Com Thomaz, nesse dia ensolarado, ele falou de suas músicas, da discografia, ao todo 4 Lps e 2 Cds, de livros, de projetos e sonhos. Sempre acompanhado de uma bela dose de ironia, o maestro faz uma breve reflexão daquilo o que viveu nesse período, em todos os aspectos: Acompanhe um trecho da entrevista:

CCT: Quais os teus maiores sucessos no âmbito da carreira musical?
AS: Argumento (não mate a mata), Sonhos de Voar, Dessana e Baião Fluvial.
CCT: Quantos livros publicados?
AS: O primeiro se intitula Música Profissão de Risco; a dialética de uma visagem estética no reino da clorofila, o segundo é Nas Trincheiras da Clorofila e o terceiro é Composição e Arranjo – `Princípios Básicos.
CCT: Qual a diferença do Brasil de hoje em relação ao Brasil dos teus anos dourados?
AS: Anos dourados só como novela da TV Globo. Nunca vi anos dourados em relação ao Brasil.
CCT: Qual o maior movimento musical brasileiro?
AS: Na realidade são dois, a Bossa Nova e o Tropicalismo.
CCT: O que mais te inquieta na música de hoje?
AS: A mediocridade promovida pela Indústria Cultural
CCT: O que tem sido a música regional do Amazonas nesse período todo?
AS: Nossa produção autoral começa na década de 60 e sucumbe na década de 90.
CCT: O que determina nossa submissão cultural em relação ao Brasil e do Brasil com o mundo?
AS: Somos um país periférico. Estamos na rabeira da História em qualquer setor, tipo cultural, econômico, educacional, enfim, temos que apagar esse Brasil e começar outro, do zero.
CCT-O que o senhor faria novamente e o que deixaria de fazer se pudesse voltar no tempo?
AS: Tô fechado para passado.
Assim tem sido o genial Adelson Santos, vivendo, sonhando, voando na imaginação incompreensível do gênio, no reino mágico da clorofila.

2 Comments

  • Meu querido amigo Adelson Santos é um dos mais completos compositores e músicos amazonense que conheci na atual existência. Nossa amizade se perde na contabilidade dos milênios e pude reencontrá-lo, depois de muitos séculos (nossa mais recente jornada foi na Grécia do Século VIII) aqui em Manaus nos anos 70 (melhor momento da música amazonense com letristas como Aníbal Beça e músicos como Adelson). Nos anos 80 eu estava no ar inaugurando a Difusora FM e convidei o Adelson para estar comigo ao vivo no programa. Ele já estava com o seu Mestrado em música, embora já fosse um Mestre do pensamento livre muito antes. Falamos sobre vários temas além da música e posso recordar as palavras dele finalizando o nosso programa: “… o que mais me incomoda é a mediocridade musical daqueles que acham que fazem música porque tiram ruídos de seus instrumentos…”. Antes de me despedir, fechando a entrevista com ele, agradeci sua presença e concluí: Adelson, obrigado por ser meu amigo e por auxiliar meus ouvintes a dissecarem as progressões harmônicas nos tirando da ignorância musical do momento. Tem muita porcaria no ar fazendo sucesso e que bom que temos você como arauto da música elaborado com profissionalismo e inspiração.

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