
*Por Thomaz Antonio Barbosa
Enquanto o verão não vem eu tiro essa temporada de chuva em Boa Vista do Ramos, um paraíso fincado no paraná homônimo, no grande rio das amazonas. Creio que Francisco Orellana não passou por aqui senão teria ficado.
Saindo de Manaus às 4h da manhã, em lancha rápida, é possível aportar na cidade por volta de 11:30 ao meio dia.
A vila é tudo o que se espera de um soneto, uma poesia de versos marcados, de estrofes e silabas exatas se conjugando em uma harmonia silenciosa de terra, mata e água.
A geografia é plana, o traçado urbano é projetado, ruas por onde passa a cordialidade de um povo alegre, acolhedor, gentil. É um lugar onde ninguém te nega um bom dia, um aperto de mão e um sorriso. Na padaria tem pão; no açougue, carne; na peixaria, peixe; no ar, felicidade.

A vida é consoante, o dia é estruturado em introdução, quando a natureza desperta; se desenvolve com o labor e o mormaço; conclui com o esplendor de um pôr do sol mágico, pleno, inigualável, fundindo matéria e luz, transformando tudo que aqui existe em uma noite plácida.
A solidão desses rios parece intransponível; a força da natureza, em forma de átomos sólidos, líquidos, gasosos e plasma, insuplantável, lapso de infinito que faz de nós uma partícula de nada em meio ao vazio do universo amazônico, a parte maior de tudo o que há no planeta.
Boa Vista do Ramos é assim, um pedaço desse mínimo que transforma tudo em grande. E tudo no Amazonas é grandioso, que seja essa gente bonita que sabe sorrir, que sejam esses pássaros que sabem cantar, que sejam esses rios que em milhões de anos cumprem o destino de descer, serpenteando a floresta, para irrigar o mar.
Não há nada nesse lugar que não represente a beleza, o planeta e seus significados. No Paraná do Ramos a vida segue a tranquilidade cabocla, o jeito de ser do Amazonas, a timidez sofisticada, o olhar sereno de uma raça bravia, erguida pela força que brota da terra, do chão úmido da várzea, do ventre de um trópico mordaz e seus rigores.

Quando cheguei por aqui era domingo e alguém por perto ouvia, em grosso volume, aquela velha música cansada. Era o único ruído que rompia o silêncio e quebrava a tranquilidade. É uma sentença que acontece por aí e deverá prosseguir a lástima vezes sim vezes não, derramando tinta escura em uma paisagem de muitas cores, caso contrário não seria um soneto, ode onde a rima da última estrofe é distinta do corpo do poema!
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Imagens: Conversa Com Thomaz