Conversa com Thomaz

“A mulher assumiu um espaço no meio rural”, diz a Superintendente do INCRA

*Thomaz Antonio Barbosa

A entrevistada do quadro Personalidade do nosso site, Conversacomthomaz.com, mês de outubro de 2023, é a Superintendente Regional Substituta do INCRA no Amazonas, Adriana Lima. Ela é Assistente Social e Bacharel em Direito, servidora de carreira, há 15 anos exercendo a função de Analista em Reforma e Desenvolvimento Agrário. Fui recebido em seu gabinete, na sede do órgão, em Manaus. Desenvolta, em nossa conversa ela destacou o papel da mulher em todos os âmbitos da questão agrária, a conquista do protagonismo feminino, a autonomia e o reconhecimento da importância do gênero em meio ao antagonismo do mundo rural.

Segundo ela: “A mulher, por mais invisível que pareça, sempre esteve à frente, seja dos movimentos sociais, dos assentamentos, dos acampamentos, etc. de fato, tem um protagonismo da mulher nesses ambientes, na produção rural, só que em virtude do próprio processo de machismo dentro da sociedade, isso acaba ficando meio invisibilizado e desvalorizado. Sempre à mulher foi reservado o quintal da casa, e se a gente for pensar, o quintal, o cuidar dos filhos e ainda produzir é um desafio de grande tamanho. Então, o papel do INCRA, da sociedade e da agricultura familiar é fomentar justamente esse processo de autonomia da mulher no campo.  As nossas iniciativas são muito nesse sentido”.

Adriana fez questão de salientar a importância da conquista desse protagonismo feminino no meio rural, apagado pela figura do homem, como uma tarefa difícil, árdua, dolorosa, porém necessária para a autonomia e valorização da mulher no setor.

Eu me lembro que certa vez estava entregando títulos de domínio e conversava com uma unidade familiar, era sempre ele, o homem, que respondia, que tomava a palavra, inclusive, quando eu me dirigia à mulher. Então, eu fui olhar o documento titulatório da terra e ele me disse “não, o título está em nome dela”. Isso é uma ação do primeiro governo Lula, inverter a posição, colocando a mulher como primeira proprietária. Essa simples, singela e incompreendida iniciativa gerou esse processo de fazê-lo reconhecer que a documentação não estava apenas em seu nome, portanto, o protagonismo foi dividido; com isso, pela primeira vez, a mulher falou”.

Ainda sobre essa questão a Superintende enfatiza que “são ações dessa natureza que afirmam o papel da mulher e lhe colocam como protagonista, seja no Minha Casa Minha Vida, seja em programas de créditos específicos ou no documento titulatório do INCRA”.

Hoje, passados 15 anos, eu percebo que a mulher assumiu um espaço no meio rural

Adriana Lima

Sobre as políticas de incentivo e benefícios para a mulheres do meio rural Adriana Lima nos disse que “tem um crédito no valor de oito mil reais, o Fomento Mulher, para as mulheres assentadas, beneficiadas na Reforma Agrária, que o objetivo é trabalhar a inclusão produtiva, onde ela pode utilizar na compra de equipamentos, máquinas, animais, qualquer coisa para lhe gerar autonomia e sua unidade familiar, assim como o jovem também tem seu crédito especifico. A ideia do governo federal é potencializar esses segmentos”.

Por fim, quando eu lhe pergunto se em todo esse tempo no INCRA o que ela pode nos contar sobre a trajetória da mulher nessa questão rural, Adriana Lima faz um relato conciso de quem viveu essa fase de crescimento e conquista do gênero.

“Esse mundo agrário é muito masculino. Em 2004, quando eu comecei a participar das reuniões nos municípios do Amazonas, percebi que as mulheres pouco participavam.  Então, eu comecei a chamá-las para preencher esses espaços importantes de discussões e decisões, e hoje, passados15 anos, eu percebo que a mulher assumiu um espaço no meio rural, se naquele momento eu não percebia a presença delas, hoje eu já vejo muitas lideranças femininas. A Marcha das Margaridas, por exemplo, é uma demonstração da força da mulher no campo. E tudo isso tem a ver com essas ações afirmativas do governo, como a titulação, o crédito específico, tanto para a mulher, como a juventude e populações quilombolas, enfim, a gente é capaz de viver em uma sociedade de equidade, em que homens e mulheres vivam em harmonia, e que eles cumpram seus papéis no mundo produtivo e rural. Entender que esses dois universos não são incompatíveis, que eles podem sim existir, sem machismo, sem violência, onde haja o bem viver para as famílias, é esse o objetivo, é nisso que eu acredito”.

De acordo com as últimas informações produzidas no Brasil, o número de mulheres no comando de propriedades agropecuárias no Brasil aumentou de 12,7% (2006) para 18,7%  (2017), alcançando um total de 946 mil. Além de outras 817 mil que declararem participar da administração dessas propriedades de forma compartilhada, segundo IBGE.

A Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA,  estado do Amazonas, está localizada na Avenida André Araújo, 901, bairro Aleixo, em Manaus, CEP: 69.060-000.

*Entrevista concedida a Thomaz Antonio Barbosa

Imagem: ConversaComThomaz

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